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Exploração de Grutas com o NECA

Cave Exploration with NECA

Ao longo de várias décadas de investigação espeleológica, o Núcleo de Espeleologia da Costa Azul (NECA) identificou e explorou dezenas de grutas únicas na região da Arrábida. Nesta secção, encontram-se em destaque algumas das cavidades mais relevantes, tanto pela sua importância científica e natural, como pela sua beleza e singularidade.

Grutas em Destaque

Gruta do Puto

A gruta do Puto localiza-se na Serra da Achada, no bordo oriental do vale tifónico de Sesimbra. A entrada faz-se por um pequeno algar de 5 metros, há muito conhecido dos pastores que o utilizavam para depositar os cadáveres dos animais. No ano de 2010, e após 3 anos de desobstrução, o NECA acedeu a uma nova galeria com cerca de 30 m de comprimento por 5 de diâmetro que se desenvolve ao longo da junta de estratificação em calcários do Jurássico Inferior. Predominam as formas coraloides que cobrem o chão e as paredes da galeria, com cores que variam entre o rosa, o laranja e o branco.

A constituição mineralógica das formações litoquímicas tem-se revelado surpreendente pela presença de anquerite — um carbonato de ferro, pouco comum em contexto de gruta. Para além disso, esta cavidade apresenta várias espécies de animais cavernícolas, dos quais se destacam a aranha Teloleptoneta synthetica, descrita na década de 1950 e, recentemente descoberto, o caracol Oxychilius cellarius, pela primeira vez identificado como troglófilo, podendo desenvolver um ciclo biológico inteiramente cavernícola.

Gruta dos Morcegos

A Gruta dos Morcegos deve o seu nome à colónia de morcegos-de-peluche que a utiliza, sobretudo na época de reprodução. Localiza-se na arriba do Fojo do Risco junto ao nível do mar e desenvolve-se horizontalmente em calcários do Jurássico Médio, ao longo de 130 metros distribuídos por várias galerias com sifões de água salobra. Apesar de ser uma das maiores grutas da Arrábida, destaca-se pela ausência quase total de formações litoquímicas, que mostram pouca variedade e estão restritas a locais muito específicos.

Gruta do Frade

Descoberta em Maio de 1996 durante uma atividade de prospecção costeira do Núcleo de Espeleologia da Costa Azul, a gruta do Frade é a maior e mais complexa cavidade da Serra da Arrábida até agora descoberta. Localiza-se ao nível do mar, na arriba da Rechã d'Arcos, sendo de difícil acesso devido às condições atmosféricas, ondulação e níveis de maré.

Desenvolve-se horizontalmente na direção SE-NW ao longo da superfície de estratificação dos calcários do Jurássico Médio. Apresenta um comprimento linear de 340 m e uma rede de túneis e galerias labirínticas com cerca de 2000 m. As salas inferiores da gruta localizam-se ao nível médio das águas do mar e exibem um conjunto de lagos e sifões de água salobra, cujo nível oscila de acordo com as marés. A temperatura da água é de 19° C e apresenta valores de salinidade de 15g/l. A temperatura do ar ronda os 19° C e a humidade relativa os 97%, havendo apenas oscilações destes valores nas salas próximas da entrada devido ao vento que resulta da diferença de pressão com o exterior, podendo atingir velocidades até aos 40 km/h em ambas as direções.

A gruta do frade destaca-se pela densidade das espeleoformas que se distribuem pela grande maioria das paredes, chão e teto, tornando-a extremamente vulnerável. Estão classificados cerca de 40 tipos de formações litoquímicas que, pela sua diversidade, sugerem a complexidade dos processos de formação da cavidade.

Gruta do Zambujal

A gruta do Zambujal foi descoberta em Junho de 1978 durante os trabalhos de uma pedreira na Serra dos Pinheirinhos. A beleza da cavidade e a raridade das espeleoformas justificaram a conquista do estatuto de Sítio Classificado de Interesse Espeleológico (Decreto-Lei nº140/79 de 21 de Maio), tornando-a na primeira gruta classificada em Portugal. Desenvolve-se nos calcários do Jurássico Superior e apresenta uma forma alongada com desnível de 20 m e comprimento linear de 108 m. Caracteriza-se pela singularidade e variedade de espeleoformas, profusas em toda a cavidade, destacando-se a grande diversidade de excêntricas e a dimensão dos cristais de calcite.

Após a sua abertura as condições ambientais alteraram-se e a gruta ficou exposta às flutuações atmosféricas exteriores e ao guano produzido por uma colónia de morcegos-de-peluche. Como consequência, verifica-se a deterioração de várias áreas da cavidade que, e apesar do estatuto adquirido, continua a ser a mais vulnerável de toda a Arrábida.

Gruta da Utopia

A gruta da Utopia foi descoberta pelo NECA em Junho de 2003 durante uma campanha de prospecção na Serra dos Pinheirinhos, no âmbito do Projeto de Investigação do Sistema do Frade. Tal como a gruta do Frade, desenvolve-se em rochas calcárias do Jurássico Médio ao longo da superfície de estratificação. No entanto, progride verticalmente acompanhando os 50° de inclinação da estrutura ao longo de mais de 120 m. É a gruta mais profunda da cadeia da Arrábida e aquela que mais se distingue em termos morfológicos. Observam-se várias galerias que se distribuem em andares intercalados por túneis e passagens estreitas. A temperatura do ar ronda os 18,5° C, oscilando apenas na galeria junto à entrada em virtude das trocas de ar com o exterior.

A cavidade distingue-se pela singularidade das formas e pelas cores das formações litoquímicas, salientando-se as formas coraloides e botrioidais. Para além disso, é também o local onde em 2005 se identificaram pela primeira vez várias espécies de animais cavernícolas, entre os quais a aranha Anapistula ataecina. A inventariação da gruta da Utopia tem contribuído bastante para o conhecimento do geopatrimónio da região, nomeadamente ao nível da morfologia, das formas e dos minerais, que ajudarão a compreender melhor os processos e a história geológica da Serra da Arrábida.

Gruta do Fumo

A Gruta do Fumo localiza-se na Serra dos Pinheirinhos e desenvolve-se horizontalmente ao longo de vários planos de estratificação nos calcários do Jurássico Médio. A cavidade é constituída por uma galeria com uma extensão linear de 70 metros e largura média de 7 metros, e por uma rede de túneis e pequenas galerias horizontais dispostas em diferentes níveis. Apresenta-se bastante concrecionada, embora mais esplendorosa nas áreas confinadas. Para além das estalactites e colunas, destacam-se também os cristais dente-de-cão, os coraloides e a calcite algodão.

Esta cavidade foi alvo de trabalhos arqueológicos que revelaram a sua utilização pelo Homem durante cinco milénios. Os artefactos encontrados mostram que no período Neolítico a gruta serviu de necrópole, continuando a ser frequentada até aos finais do século XII d.C., época da ocupação islâmica da Península Ibérica. Atualmente o seu acesso encontra-se condicionado pois continua a ser utilizada por várias espécies de animais cavernícolas.

Gruta da Grande Falha

Localizada na base da vertente ocidental do promontório do cabo Espichel, a Gruta da Grande Falha desenvolve-se ao longo dos planos de estratificação dos calcários do Jurássico Superior. Apresenta um comprimento linear horizontal de 250 m e atinge uma altura máxima de 80 m que acompanham os 50° de inclinação das paredes. A progressão é feita poucos metros acima do nível médio das águas do mar, através de um lago de água doce com 70 m de comprimento, 3 m de profundidade e temperatura de 12°C. Este lago, segmentado em duas partes paralelas, acede a uma área emersa, sem formações e bloqueada por grandes blocos e argila, onde, durante o inverno, se instala uma colónia de milhares de morcegos-de-peluche. A entrada de grandes dimensões (14m) é apenas acessível com o recurso a técnicas de progressão vertical através da arriba, uma vez que o acesso marítimo está extremamente condicionado pela exposição à ondulação e ventos dominantes. A localização da gruta e o temor exercido pelo cabo Espichel, fomentaram durante centenas de anos a imaginação dos pescadores que a batizaram de "Segredos". Só em 1995 é feita a primeira expedição ao interior da cavidade que, para além de se revelar numa das maiores grutas da Arrábida, marca também o início da história do Núcleo de Espeleologia da Costa Azul.

Gruta da Garganta do Cabo

A Gruta da Garganta do Cabo é constituída por uma rede labiríntica que se desenvolve nos calcários do Jurássico Superior e que acede a uma enorme galeria (30m de altura e 50m de diâmetro) causada pela ação do mar num filão de rocha eruptiva. Está localizada na extremidade ocidental do Cabo Espichel e possui três ligações com o exterior bastante dificultadas pela altura da arriba e pela violência do mar. A Oeste, o mar invade a galeria através de uma entrada de grandes dimensões conhecida entre os pescadores por "Furna". A Norte, a comunicação com o exterior é feita pelo teto onde, com o recurso a técnicas de progressão vertical, se acede a uma pequena plataforma emersa.

A Este, a galeria comunica com uma rede labiríntica que se estende por algumas dezenas de metros desde uma pequena passagem desobstruída pelo Núcleo de Espeleologia da Costa Azul em 1995. Localizado à cota de 30 metros, o "Labirinto" é formado por túneis e passagens estreitas intercaladas com pequenas salas. As paredes, bastante concrecionadas, contrastam com o chão coberto de areia proveniente de antigos níveis marinhos também evidenciados pelos depósitos de antigas praias, suspensos na galeria principal.